A propósito dos resultados no exame nacional de Filosofia, 2012...
A informação disponível permite perceber uma média dos alunos internos de 8,9 valores.
Por um lado, a média por si só não significa nada. Deve ver-se a relação entre a média no exame e a média nas classificações internas à disciplina, dos alunos que efectivamente se sujeitaram à prova. Houve ou não houve alterações significativas nas classificações dos alunos? Houve disparidades entre as notas internas e as externas?
É ainda preciso ter em consideração que, para as classificações internas entram na ponderação factores que estão ausentes na avaliação externa. A avaliação externa é uma prova, um exame, um teste, mas na avaliação interna é tido em consideração o comportamento do aluno relativamente à disciplina, desde a sua participação, a sua dedicação, a realização de tarefas várias, a forma como está em sala de aula, a sua destreza discursiva a nível oral, bem como a sua evolução ao longo do ano, etc. Em tudo isto há ainda a considerar que o professor é um ser humano que, como qualquer um, tem as suas especificidades, quer se trate do professor que corrige o exame, quer do professor que em sala de aula se relaciona com cada um dos alunos.
Por outro lado, o peso da avaliação externa permite uma diferença sensível entre esta e a classificação interna, sem que no final ocorra variação. Isto é, o aluno pode descer um ou dois valores sem afectar a sua nota à disciplina.
Assim sendo, se de facto houver uma discrepância significativa entre a média das classificações internas dos alunos que foram a exame, e a média dos mesmos alunos no exame, então este facto merece uma reflexão acurada.
A solução mais fácil para acabar com os maus resultados nos exames é acabar com os exames. Sem exames não há maus resultados nos exames. Não significa isso que não permaneçam os problemas que, porventura, estejam na causa dos maus resultados.
O facto de nos últimos cinco anos não ter existido exame facilitou este resultado. Criou-se um
modus operandi, quer por parte de certos professores, quer por parte dos alunos, que gerou certos preconceitos relativamente à disciplina. Desenvolveu-se a ideia, já de si fácil de nascer, de que a Filosofia se constitui numa espécie de
achismo, como que num opinar qual conversa de café sem compromisso com qualquer tipo de fundamento... A ideia de que a experiência mais ou menos vaga, neste ou naquele caso particular, confere e habilita a fornecer qualquer tipo de opinião, sem a examinar, fundeando-a nesse aspecto de se ter tido esta ou aquela experiência - bem como o facto de acontecer que os temas filosóficos são, por excelência, temas que tocam a todos e sobre os quais todos têm um certo tipo de abertura - este facto e aquela ideia fizeram florescer o preconceito de que a Filosofia não é um saber rigoroso, e que pelo contrário qualquer um pode dar conta dos seus assuntos simplesmente atirando ao acaso um conjunto mais ou menos informe de afirmações. Este preconceito competiu com a ausência de exame para despedir a exigência na disciplina, quer na mentalidade dos alunos, quer na condescendência dos professores. A ausência de exame também permitiu largos voos fora do programa, ou a apropriação pessoal, por parte do professor, do mesmo. Sem exame nada impediu que se fugisse do programa, ou que se invertesse o mesmo.
O exame, bem como o programa, não são perfeitos. O programa é discutível. O exame não foi exigente, foi muito superficial, e não teve a forma de um exame verdadeiramente filosófico. Provavelmente, este facto ajudou a que os resultados não fossem ainda piores.
Contudo, parece-me que a própria introdução do exame se apresentará como uma exigência aos professores, trazendo de volta o rigor da abordagem, e menos viagens aos astros... não se confunda Filosofia com Astrologia, e já se estará a dar um grande passo...
Por outro lado, este resultado corre o risco de não evidenciar o óptimo trabalho que muitos professores fazem e fizeram, em muitos casos lutando corajosamente contra o clima de impunidade, facilitismo e condescendência que cresceu abundantemente nos últimos anos...
Finalmente, não devemos esquecer que, em muitos casos, optaram pelo exame a Filosofia alunos que não se consideraram aptos a realizar as provas "exigentes" noutras disciplinas consideradas por eles "mais exigentes", pelo que seguiram assim pelo caminho que julgaram mais fácil, talvez mesmo sem vislumbrarem a necessidade de maiores preocupações, estudo ou exercício... as
generalizações são sempre mentirosas, pois com toda a certeza houve bons alunos, que tiveram bons professores, que estudaram e se esforçaram bastante, e que sofreram a acção perversa da sorte... Mas são, com toda a certeza, uma excepção, que pelo facto de serem excepção, confirma a regra...