A propósito da importância da Filosofia...
A Filosofia tem muitos papeis. Cada Filósofo define a Filosofia de uma forma particular.
Não vou agora definir Filosofia.
Mas um dos papeis da Filosofia, e um dos que me parece fundamental, talvez primeiro, é o de Revelar.
Claro que como Revelação a Filosofia se pode aproximar, e até ser confundida, com outros modos de questionamento. A Filosofia, enquanto Revelação, tende a aproximar-se da Religião e, muitas vezes, foi e continua a ser confundida com a Religião. Mas a Filosofia não é Religião e o seu modo de questionamento é radicalmente diferente. O questionamento filosófico, enquanto tal, não pode, sob pena de deixar de ser filosófico, deixar-se encaminhar por estes ou aqueles cânones. O questionamento filosófico não tem tabus, nem pode ter limites. Isto é, o questionamento filosófico deve ser descomprometido com qualquer resposta à partida. Isto não quer dizer que não possa existir um compromisso com este ou aquele método. De resto, o questionamento filosófico, à medida que progride, vai estabelecendo as suas traves mestras. Mas, quando parte, não pode estar já comprometido com uma resposta. Por exemplo, um filósofo pode apresentar uma linha de raciocínio fortemente ética. Mas a ética no seu pensamento deve estar inserida e ser explicada nele. O início da prospecção não pode ter como que um "politicamente correcto" em vista. Por seu lado, o pensamento religioso tem tabus e deambula por certas premissas que são parte prévia integrante de cada resposta, antes mesmo de se ter colocado a questão.
A Filosofia enquanto revelação, revela. Esta redundância sublinhe esse aspecto do questionamento filosófico: enquanto instauração de um questionamento, a filosofia tem em vista fazer luz sobre algo, sobre algo que se manifesta habitualmente. Ora, ao revelar a Filosofia deve revelar isso que questiona. O revelar é um mostrar, mas não um mostrar qualquer. Isso que se revela não é nada de novo, pois que se se revela é porque já lá estava. Isso que já lá estava à espera de ser revelado não era nada de outro mundo, pelo contrário, tratava-se de algo que estava aí ao alcance, embora não apreendido. Como um insecto que está no nosso campo de acção, mas que apenas damos por ele quando ele se move. Este revelar trata-se, pois, de um desvelar.
No caso do insecto, o insecto estava lá, mas não tinhamos dado por ele. E há questionamentos filosóficos que resultam neste tipo de revelações. Revela-se algo que sempre aí esteve, mas que ainda não tinhamos dado por isso. Foi assim com a descoberta da gravidade. Em bom dizer ela sempre aí esteve, mas camuflada, foi preciso um olhar apreensivo para dar conta dela.
Outras vezes, e são estas que mais me interessam, ocorre uma revelação distinta. Ocorre que o questionamento deixa ver aquilo que sempre esteve à luz, visível, portanto e, mais do que isso, notado. Mas a revelação mostra-o a uma nova luz. Ou seja, com a revelação não foi dado a ver nada de novo, também não foi mostrado algo que sempre esteve aí camuflado, mas algo com que sempre lidámos e de que sempre demos conta. Como aqueles casos em que sempre soubemos determinada coisa, mas um dia paramos para pensar sobre isso.
Ora, parar para pensar é uma forma de contemplação. Revelar é um desvelar, um descobrir, mas um descobrir que não descobre nada de novo. A sua peculariedade é a alteração do modo em que a apresentação do que é dado é feita. Como se se substituisse uma apresentação a preto e branco por uma apresentação a cores. Contudo, este exemplo peca, e o seu pecado é, ele próprio revelador. É que na transformação operada pela revelação filosófica o que se passa não é tanto um acrescentar. Não há nada a mais na revelação filosófica. Precisamente, se a Filosofia acrescenta, desvirtua, se subtrai não revela o que está a ser questionado. A revelação filosófica tem que ser de tal modo que, no seu revelar nada acrescente nem retire ao que é revelado.
Ora, esta pequena particularidade resulta em que com Filosofia, sem Filosofia, na Filosofia e pela Filosofia fica tudo tal e qual. Perante o senso-comum a Filosofia serve para nada. E, de facto, a serventia da Filosofia não parece medir-se da mesma maneira que as restantes ocupações úteis do dia-a-dia.
Philosophy has many roles. Each philosopher defines Philosophy of a particular form.
I wont now define Philosophy.
But one of the roles of philosophy, and one of which seems essential, perhaps first, is to reveal.
Of course, as Revelation philosophy can resemble, and to be confused with other modes of questioning. Philosophy, as Revelation, tends to approach the Religion and often has been and continues to be confused with Religion. But Philosophy is not Religion and its mode of questioning is radically different.
The philosophical questioning, as such, can not, on pain of ceasing to be philosophical, to be routed by these or those canons. The philosophical question has no taboos, mustn't have limits. That is, the philosophical questioning shouldn't be engaged with any response from the outset. This does not mean that there can't be a compromise with this or that method. Moreover, the philosophical question, as it progresses, will establish its main support. But when it begins can not be already committed to an answer. For example, a philosopher can make a line of reasoning strongly ethics. But ethics in his thought must be inserted and be explained in it. The beginning of exploration may not result in a "politically correct". For its part, the religious thought has taboos and wander around certain assumptions that are part of each response, even before the question is made.
Philosophy as revelation reveals. This redundancy emphasize this aspect of the philosophical question: while the establishment of an inquiry, Philosophy aims to shed light on something, on something that usually manifests itself. However, by revealing the Philosophy should reveal what is questioned. The show is a show, but not any show. That which is revealed is nothing new, as it is revealed because it is already there. That what was already there waiting to be revealed was nothing out of this world, however, it was something that was there within reach, but not apprehended. As an insect that is in our field of action, but we just realise about it when it moves. This show is therefore an unveiling.
In the case of the insect, the insect was there, but we had not realise that it was there. And there are philosophical questions that arise in this type of revelation. It shows something that was always there. So with the discovery of gravity. In good to say it was always there, but hidden, it took a worried look to account for it. Other times, and it is these that interest me, there is a distinct revelation. Happens that the question lets see what has always been illuminated, visible, and therefore, more than that, noted. But the revelation shows it on a new light. That is, the revelation was not given to do anything new, has not been shown something that was always there in disguise, but something we have dealt with ever and ever realized. As those cases where we always knew something, but one day stopped to think about it.
Now think about it is a form of contemplation. Reveal is an unveiling, a disclose but a disclose that does not discover anything new. This peculiarity is changing the way in which the presentation of what is given is made. As if it substituted a presentation in black and white with a presentation of colors. However, this sample unit has a sin, and their sin is itself revealing. Is that the transformation operated by philosophical revelation is not so much an add. There is nothing more in the philosophical revelation. Precisely, if the philosophy adds, undermines, if philosophy subtracts, it reveals not what is being questioned. The disclosure of philosophy has to be such that, in its disclosure anything is added or removed from what is revealed.
This little peculiarity results in that with philosophy, without philosophy, in philosophy and by philosophy is all as it is. So, common-sense tell us that philosophy is useless. And, in fact, the usefulness of philosophy does not seem to be measured by the same yardsticks as other useful occupations of everyday life.
domingo, 13 de setembro de 2009
quarta-feira, 9 de setembro de 2009
Um jovem num asilo
A propósito da importância da Filosofia...
Um Conto de Kahlil Gibran
Eu estava andando nos jardins de um asilo de loucos, quando encontrei um jóvem rapaz, lendo um livro de filosofia.
Pelo seu jeito, e pela saúde que mostrava, não combinava muito com os outros internos.
Sentei-me ao seu lado e perguntei:- O que você está fazendo aqui?
O rapaz olhou surpreso. Mas, vendo que eu não era um dos médicos, respondeu:- É muito simples. Meu pai, um brilhante advogado, queria que eu fosse como ele. Meu tio, que tinha um grande entreposto comercial, gostaria que eu seguisse seu exemplo. Minha mãe desejava que eu fosse a imagem do seu adorado pai. Minha irmã sempre me citava seu marido como exemplo de um homem bem-sucedido. Meu irmão procurava treinar-me para ser um excelente atleta como ele.Parou um instante e continuou:
- E o mesmo acontecia com meus professores na escola, o mestre de piano, o tutor de inglês - todos estavam determinados em suas ações e convencidos de que eram o melhor exemplo a seguir. Ninguém me olhava como se deve olhar um homem, mas como se olha no espelho.
"Dessa maneira, resolvi me internar neste asilo. Pelo menos aqui eu posso ser eu mesmo."
Autoria de Paulo Coelho
Um Conto de Kahlil Gibran
Eu estava andando nos jardins de um asilo de loucos, quando encontrei um jóvem rapaz, lendo um livro de filosofia.
Pelo seu jeito, e pela saúde que mostrava, não combinava muito com os outros internos.
Sentei-me ao seu lado e perguntei:- O que você está fazendo aqui?
O rapaz olhou surpreso. Mas, vendo que eu não era um dos médicos, respondeu:- É muito simples. Meu pai, um brilhante advogado, queria que eu fosse como ele. Meu tio, que tinha um grande entreposto comercial, gostaria que eu seguisse seu exemplo. Minha mãe desejava que eu fosse a imagem do seu adorado pai. Minha irmã sempre me citava seu marido como exemplo de um homem bem-sucedido. Meu irmão procurava treinar-me para ser um excelente atleta como ele.Parou um instante e continuou:
- E o mesmo acontecia com meus professores na escola, o mestre de piano, o tutor de inglês - todos estavam determinados em suas ações e convencidos de que eram o melhor exemplo a seguir. Ninguém me olhava como se deve olhar um homem, mas como se olha no espelho.
"Dessa maneira, resolvi me internar neste asilo. Pelo menos aqui eu posso ser eu mesmo."
Autoria de Paulo Coelho
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quinta-feira, 3 de setembro de 2009
O Papel da Filosofia na Educação
A propósito da importância da Filosofia...
É importante que a Filosofia ocupe um lugar no ensino oficial? Qual é o papel da Filosofia da educação, por que é que é importante que a Filosofia seja ensinada nas escolas?
O papel da Filosofia na Educação é, muitas vezes, menosprezado.
Muitas vezes é a própria sociedade que menospreza a Filosofia, porque para isso tem contribuído, por vezes, a própria acção dos professores.
A Filosofia é, muitas vezes, encarada como um simples "dar opinião", como se não lhe interessasse a investigação e a análise de argumentos, posições, hipóteses, que previamente se deve fazer. A opinião que interessa ao filósofo é aquele que, por esclarecida, mostra maior capacidade de resistir à sua refutação racional.
A Filosofia não é religião: não é "ensinar" os alunos a respeitar as regras, as leis, etc.:
A Filosofia não é poesia: não é juntar esteticamente as palavras, nem atirar conclusões belas e profundas;
A Filosofia não é ciência: não é ficar no que empiricamente se mostra, nem decompor a mera experiência, nem avaliar apenas o que "parece" mais provável;
Se todas as perguntas científicas fossem resolvidas, o humano não ficaria sem problemas por resolver.
A poesia e a religião dizem muitas vezes aquilo que o filósofo conclui. Mas na religião o cerne está na fé, na confiança numa espécie de autoridade indiscutível.
A Filosofia também confia na autoridade dos livros, dos autores, dos editores, etc. Mas o filósofo escrutina a validade de tudo, sujeita tudo a exame. Ou pode fazê-lo sempre que se apercebe de um preconceito até aí ignorado.
O poeta fala bem de forma bela. Há poesia que é Filosofia. Mas não tem de sê-lo. No entanto, a Filosofia nunca pode demitir-se da sua responsabilidade compreensiva, examinadora, se quisermos, racional.
Enfim, em Filosofia trata-se dos problemas mais profundamente humanos, aqueles que o humano jamais descartará, porque se trata do seu ser.
O ensino não deveria omitir esta potencialidade da Filosofia: acordar cada um para a questão sobre o que é isso de se ser humano é fundamental para que cada um se torne um humano excelente.
Muitas vezes é a própria sociedade que menospreza a Filosofia, porque para isso tem contribuído, por vezes, a própria acção dos professores.
A Filosofia é, muitas vezes, encarada como um simples "dar opinião", como se não lhe interessasse a investigação e a análise de argumentos, posições, hipóteses, que previamente se deve fazer. A opinião que interessa ao filósofo é aquele que, por esclarecida, mostra maior capacidade de resistir à sua refutação racional.
A Filosofia não é religião: não é "ensinar" os alunos a respeitar as regras, as leis, etc.:
A Filosofia não é poesia: não é juntar esteticamente as palavras, nem atirar conclusões belas e profundas;
A Filosofia não é ciência: não é ficar no que empiricamente se mostra, nem decompor a mera experiência, nem avaliar apenas o que "parece" mais provável;
Se todas as perguntas científicas fossem resolvidas, o humano não ficaria sem problemas por resolver.
A poesia e a religião dizem muitas vezes aquilo que o filósofo conclui. Mas na religião o cerne está na fé, na confiança numa espécie de autoridade indiscutível.
A Filosofia também confia na autoridade dos livros, dos autores, dos editores, etc. Mas o filósofo escrutina a validade de tudo, sujeita tudo a exame. Ou pode fazê-lo sempre que se apercebe de um preconceito até aí ignorado.
O poeta fala bem de forma bela. Há poesia que é Filosofia. Mas não tem de sê-lo. No entanto, a Filosofia nunca pode demitir-se da sua responsabilidade compreensiva, examinadora, se quisermos, racional.
Enfim, em Filosofia trata-se dos problemas mais profundamente humanos, aqueles que o humano jamais descartará, porque se trata do seu ser.
O ensino não deveria omitir esta potencialidade da Filosofia: acordar cada um para a questão sobre o que é isso de se ser humano é fundamental para que cada um se torne um humano excelente.
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